Wednesday, September 9, 2015

Rumo a um colapso climático antropogênico?

Rumo a um colapso climático antropogênico?

Artigo escrito por Saxe-Fernández, doutor em Estudos Latino-americanos da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), em artigo publicado por La Jornada e reproduzido por Carta Maior, 04-09-2015. 


Entre tantos estudos oferecidos pelas mais importantes publicações da comunidade científica internacional sobre oaquecimento global a respeito da emissão humana de gases de efeito estufa, e devido à aceleração dos danos à biodiversidade, também por causas antropogênicas – ou seja, derivadas das atividades humanas –, escolho duas pesquisas que conheci recentemente e que considero imprescindíveis para entender o momento em que vivemos. Uma delas, realizada por Richard Heede, para a revista Climatic Change (2014), a outra de Gerardo Ceballos, para a revista Science (2015). Assim como colunas e entrevistas publicadas pelo diário britânico The Guardian, que apontam a uma resposta da pergunta que proponho neste título. As advertências e o inusitado consenso da comunidade científica sobre a necessidade urgente de diminuir imediatamente e de forma significa as emissões devem pautar aCOP21 – a cúpula climática que se realizará em Paris, entre novembro e dezembro de 2015. As mesmas fontes alertam para o fato de que as oportunidades para se evitar uma catástrofe bioclimática podem estar terminando.
No diálogo entre as ciências naturais, as humanidades e as ciências sociais, é possível alcançar com a precisão necessária a determinação sobre o que fazer. Um dos focos necessários é o dos fatores atmosférico, geofísico e biológico, outro tem a ver com o histórico do problema e seu contexto econômico, político e social. O estudo de Heedeé uma bem trabalhada investigação sobre as emissões de dióxido de carbono e metano proveniente dos produtores de combustíveis fósseis e de cimento, acumulada entre 1854 e 2010. Esse estudo mostrou que tão somente 90 corporações, algumas descendentes da Standard Oil Company – Chevron/Texaco, Exxon/Mobil, BP, Total e Shell, as chamadas cinco grandes – geraram dois terços dos gases do efeito estufa (Co2/metano, etc) acumulados na atmosfera desde os inícios da Era Industrial (por volta de 1750).
Susanne Goldenberg – em artigo publicado no The Guardian, no dia 20 de novembro de 2013 – contou que Heedetardou vários anos em realizar sua investigação, que foi divulgada pela primeira vez antes mesmo de ser concluída, durante as negociações sobre as mudanças climáticas em 2013. Naquela oportunidade, ele mostrou que metade do CO2/metano foi lançada na atmosfera nos últimos 25 anos, ou seja, quando tanto os governos quanto as grandes corporações já estavam cientes de que o aumento dessas emissões e a queima inconsequente de carvão, petróleo e gás natural era a principal causa das perigosas mudanças no clima do planeta. O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC, em sua sigla em inglês) destacou, naquele ano, que se aquelas taxas de emissão fossem mantidas, em 30 anos seria lançada na atmosfera uma quantidade de gases que levaria a um aumento de não mais de dois 2 graus centígrados (até agora, já aumentou 0,8ºC) , o maior aumento registrado desde a era pré-industrial. Ainda assim, estudos do pesquisador James Hansen advertem que mesmo um aumento de dois graus centígrados, considerado seguro por alguns cientistas, seria catastrófico, pois diminuiria os prazos e a capacidade de recuperação do planeta. Hansen é um ex-cientista da NASA e da Universidade de Columbia, cujo testemunho diante do Senado dos Estados Unidos, em 1988, tornou público o fenômeno do aquecimento global vinculado à queima de combustíveis fósseis.
A relevância política do estudo de Heede foi sintetizada por Al Gore. Diante de fortes discussões sobre as responsabilidades das nações, o ex-vice-presidente estadunidense deu importância à identificação daqueles que são historicamente responsáveis pela contaminação da atmosfera, que deveriam ter a obrigação clara de ser parte da solução. Por isso a necessidade de revisar os detalhes e o modus operandi das cerca de noventa plantas industriais de energia e de cimento, responsáveis pelas emissões de CO2 e metano nesse período – quase um bilhão, ou trilhão, de toneladas. Dessas noventa empresas, cinquenta são privadas, a maioria petroleiras, como as cinco grandes acima citadas, às quais se somam outras campeãs da contaminação, como a British Coal CorpPeabody Energy e BHP Billiton. Também merecem menção a saudita Aramco, a russa Gazprom e a noruega Statoil. Esta informação, que inclui entes petroleiros do México (Pemex), Polônia e Venezuela (PDVSA), foi usada numa tentativa de desbloquear a discussão na COP de 2013. Sem sucesso. O poder persuasivo dos defensores dos hidrocarburetos é grande e tem forte penetração nos governos que integram e debatem esse assunto tão grave, tanto na ONU (Organização das Nações Unidas) como em outras instâncias, e ao mesmo tempo oferecem crescentes subsídios econômicos as iniciativas que promovem as energias fósseis.
O importante, pensando na próxima COP 21, é saber que as noventa empresas operam no mundo inteiro. Algumas chegam a alcançar mais de quarenta países diferentes, explorando todas as fontes de petróleogás e carvão, visando um aumento de 40% do consumo de energia previsto até 2035. As vinte empresas mais poderosas da lista são responsáveis por 30% das emissões acumuladas. A atenção sobre os grandes impérios privados, como a Exxon, bem estudados por Robert Engler (durante vários anos) e Steve Coll (em 2012) se justifica pelas responsabilidades acumuladas, e os esforços estão voltados a questionar os monopólios fósseis vitais à etiologia do capitalismo. O problema não é a humanidade, nem o homo sapiens, mas sim o capitalismo existente: aí estão a Chevron e a Exxon, em defesa dos lucros, desafiando a comunidade científica e internacional, e até os seus acionistas. Continuam com seu programa de investimentos em ascensão, empurrando todo o planeta para o abismo.
(Continuará)

Saturday, January 10, 2015

Tendências da economia compartilhada


Tendências da economia compartilhada
artigo de Ricardo Abramovay 08 jan 2015

A internet e a rede mundial de computadores abrem possibilidades inéditas para o avanço da cooperação humana. Daí vem a importância da economia colaborativa 

O maior desafio do século XXI é a regeneração e a ampliação dos bens e serviços públicos e coletivos que tornam a vida civilizada possível. O mais importante deles é o sistema climático que será destruído caso a exploração das reservas em mãos dos gigantes fósseis contemporâneos seja levada adiante. Mas outros bens e serviços comuns da humanidade encontram-se sob ameaça. A destruição florestal e o esforço de avançar sobre áreas protegidas é um exemplo. Outro exemplo são as cidades dos países em desenvolvimento, que encolhem, de forma crescente, sua natureza pública: seus espaços são limitados não só por um carrocentrismo doentio, mas pelo apartheid territorial que afasta os mais pobres dos locais de maior provisão de utilidades e empregos. A internet e a rede mundial de computadores (World Wide Web) são os mais importantes bens públicos até hoje criados pela inteligência humana. A Web foi concebida por um grupo de pesquisadores liderados pelo britânico Tim Berners-Lee, no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear http://home.web.cern.ch/ (CERN, no acrônimo francês). Berners-Lee não só fez a opção de abrir inteiramente a rede, mas trabalhou, desde o início dos anos 1990, para preservar sua neutralidade. A ideia é que os provedores de serviços da internet e os governos não podem estabelecer barreiras econômicas para o acesso a informações, o que diferencia radicalmente a rede de computadores da oferta de programas de televisão paga, por exemplo.

A internet e a rede mundial de computadores abrem possibilidades inéditas para o avanço da cooperação humana. Daí vem a importância da economia colaborativa.

Ela desfaz o mito segundo o qual esta cooperação só pode existir sobre a base da estrita defesa de interesses individuais. A Wikipédia é hoje um dos sites mais consultados da internet, tem qualidade equivalente às grandes enciclopédias convencionais e é elaborada inteiramente sobre a base desocial a que a internet e a web dãop-se eSaibdos. A sociedade da informação em rede permite que o empreendedorismo de indivíduos e de grupos adquira uma escala que vai muito além dos círculos limitados de suas relações locais. Daí derivam três tendências fundamentais da economia colaborativa que vale a pena observar em 2015.

A primeira é que a internet das coisas, a conectividade generalizada entre objetos e, cada vez mais, entre objetos móveis, abrem caminho para que sejam colocados em comum e valorizados uma quantidade cada vez maior de ativos. Isso já se observa no campo da hospedagem e da mobilidade urbana e vai marcar, cada vez mais, a produção e distribuição de energia. A mais importante empresa alemã de energia declarou publicamente sua renúncia aos fósseis e sua aposta na oferta descentralizada e distribuída de eletricidade.

A segunda tendência é expressa em De Baixo Para Cima, livro aberto recém-publicado por Eliane Costa e Gabriela Agustini , que mostra a impressionante capacidade de produção cultural vinda de comunidades consideradas até recentemente como periféricas. A novidade não está nas organizações pelas quais passa a expressão cultural destas comunidades. Ela está no fato de que dispositivos digitais poderosos, cada vez mais baratos e funcionando em rede, permitem a difusão ampla e o reconhecimento social de expressões que até recentemente confinavam-se a uma esfera quase paroquial, o que facilitava, inclusive, sua criminalização.

A terceira tendência refere-se à apropriação privada dos conteúdos que os indivíduos produzem nas redes. Os modelos de negócios dos gigantes da internet que se apoiam no uso destas informações são objeto de crescente contestação e esta será uma das questões mais interessantes do debate público em torno da colaboração social em 2015.

   * Ricardo Abramovay é professor Titular do Departamento de Economia da FEA/USP. * Publicado originalmente no blog Ricardo Abramovay. - Reprodução de conteúdo livre desde que sejam publicados os créditos do Instituto Akatu e site
www.akatu.org.br.
  
      
 www.akatu.org.br 

Friday, January 9, 2015

Crise da água: será o colapso anunciado?


Crise da água: será o colapso?

Água deve acabar e colapso acarretará em êxodo urbano em São Paulo, afirmam especialistas

Date: 05, janeiro, 2015

A mais grave crise de abastecimento de água potável no estado de São Paulo e principalmente na Região Metropolitana, ainda não foi tratada com realismo por parte da mídia e das autoridades.

Até agora o que se viu e ouviu sobre o nível dos reservatórios, não retrata a verdadeira “guerra civil” que se aproxima nos meses seguintes, garantem especialistas.

Desde o segundo semestre de 2013, a irregularidade de precipitação atrelada ao consumo excessivo, à péssima malha de distribuição de água e a falta de investimento por parte do governo levou a uma redução muito drástica do nível dos principais reservatórios que abastecem as regiões de Campinas, Itu e São Paulo.

O maior destaque dado pela mídia, o Sistema Cantareira, que já não possui mais capacidade natural de armazenamento de água, está agonizando com sua segunda reserva técnica sendo retirada e com data para acabar.

Nesta segunda-feira (05), o nível de armazenamento do conjunto de represas do Cantareira atingiu apenas 7% da capacidade máxima, levando-se em consideração a segunda cota do “volume morto”. Em maio de 2014 foram acrescidos 182,5 bilhões de litros de água da reserva técnica e que já estão acabando.

O governo do estado de São Paulo, que expôs ao mundo a falta de gerenciamento para com o bem mais importante que existe para a sobrevivência de qualquer espécie, segue a linha de raciocínio acreditando sempre que dias melhores virão e que a água da chuva voltará a encher os reservatórios e que ao final tudo acabará bem novamente.
A visão é duramente criticada por geólogos, hidrólogos e pesquisadores ligados ao campo hídrico, econômico, ambiental e político.

De acordo com Pedro Côrtes, geólogo e professor de gestão ambiental da Universidade de São Paulo (USP), a situação vivida pela população ao longo do ano de 2014 ainda não foi dramática.

“Estamos no começo da crise. O pior ainda não aconteceu”, acrescentou o pesquisador.

O déficit de precipitação de mais de mil milímetros atrelado ao esquecimento no investimento por parte do governo deve gerar ao longo de 2015, marcas jamais vividas na história recente de qualquer cidadão brasileiro, garantem os pesquisadores.

Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe) mostraram que ao longo de 2013, a precipitação acumulada, principalmente entre a Região Metropolitana de São Paulo e o nordeste do estado, na divisa com Minas Gerais, onde estão as seis represas do Sistema Cantareira, oscilou entre 1.300 e 1.500 milímetros. Já em 2014, o acumulado variou em média entre 900 e 1.100 milímetros. Algumas estações não computaram nem 700 milímetros de chuva ao longo de todo o ano.

Cenários largamente mais preocupantes que a crise hídrica e energética (ano de racionamento de energia elétrica e de água potável) adotado pelos governos entre 2001 e 2002, quando choveu de forma bem mais distribuída que agora em 2013 e 2014.

Se somadas as deficiências de precipitação dos últimos cinco anos, a região encontra-se mais de necessária, precisando de ao mínimo, mil milímetros de precipitação.

A cidade de São Paulo, principalmente, deve entrar em colapso total até o final de 2015, onde moradores não terão água para beber, indústrias promoverão a demissão em massa, pela falta de água na produção das mercadorias e a migração de famílias inteiras para outras regiões será única e exclusivamente em função da inexistência de água. Esse é o cenário mais otimista alertado com muita antecedência pelos pesquisadores.
O comércio, a indústria e os moradores residentes em São Paulo, bem como a área metropolitana, sentirão não apenas no bolso, mas no método de sobrevivência, tamanha ingerência política.
Os pesquisadores, que já haviam indicado a possibilidade ainda em 2013, agora cravam a certeza de que teremos um êxodo urbano, ou seja, a população migrando da cidade grande para o interior devido, exclusivamente, à falta de água potável para a sua sobrevivência e também pela demissão em massa e a crise econômica que ela irá alavancar.

A mídia e o governo não mostraram ainda a gravidade que se aproxima com a extinção da água potável dos principais reservatórios, o que não significa que em anos seguintes, o armazenamento não seja recuperado. Cabe a população agilizar suas tarefas e gerir a pouca água que resta. Mesmo que chova o dobro do que foi perdido nos últimos dois anos, as represas demorariam, pelo menos cinco anos, para recompor o que foi perdido.
São Paulo está à beira do colapso, mas como sempre, acreditamos em dias melhores, ou na chuva que cairá. E isso terá um preço muito alto a ser pago por todos.
Não existe milagre, mas sim planejamento. E planejamento é o que menos fizeram nos últimos anos para com a água de São Paulo.

(Crédito das imagens: Reprodução/Sabesp – Arquivo/Denny Cesare/Moacyr Lopes/Folhapress Arquivo/Luis Moura/Estadão Conteúdo – Arquivo/Nacho Doce/Reuters)

Fonte da informação:

 De Olho No Tempo Meteorologia