A mudança climática segundo os testemunhos do gelo.
“Por meio da glaciologia foi possível detectar o impacto da poluição global devido à ação humana no período pós-revolução industrial”, garante o glaciologista e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, Jefferson Cardia simões.
Cilindro de Gelo - © C. Delhaye/CNRS Photothèque/IPEV
Isoladas do mundo moderno, seja pelo clima inóspito, seja pelas longas distâncias, as grandes geleiras têm muito a dizer sobre o nosso planeta. E descobrir a riqueza de informações armazenadas sob camadas e camadas de neve é a tarefa da glaciologia e dos estudos dos testemunhos do gelo. De acordo com o glaciologista Jefferson Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o estudo consiste na “reconstrução da história do clima e da composição química da atmosfera a partir das amostras de neve e gelo que acumularam através de milhares e milhares de anos”.
A pesquisa sobre a atmosfera do passado foi capaz de traçar um panorama deste cenário pelos últimos 800 mil anos.Simões relata que graças a esses estudos é possível afirmar que nunca a concentração de gases do efeito estufa foi tão alta quanto no presente. “O efeito estufa é um processo natural”, evidencia ele. “O que vivenciamos é o efeito estufa intensificado, que é um processo antropogênico e que consiste na maior emissão de gases que já existem na natureza.”
Em entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, Simões esclarece os principais equívocos nas discussões envolvendo o aquecimento global e o derretimento das “calotas polares”, demonstrando a importância do papel das regiões geladas para o clima do planeta. Chama a atenção também para a polêmica daqueles que refutam o argumento do aquecimento global – incentivada por grupos de pressão para incitar o negacionismo do conhecimento científico. “Alguns lugares aquecem mais e outros inclusive esfriam, mas na média temos um aumento da temperatura na superfície do planeta”, defende.
Jefferson Simões foi pioneiro no Brasil nos estudos do gelo e, atualmente, é pesquisador líder do Programa Antártico-Brasileiro. O Proantar, como é chamado, é um programa da Governo Federal para pesquisa no Continente Antártico. Criado em 1982, mantém uma estação de pesquisa durante todo o ano na Antártica (Estação Antártica Comandante Ferraz). Em 25 de fevereiro de 2012, um incêndio danificou 70% da Estação. No entanto, a pesquisa não foi interrompida, e vários acampamentos sazonais, além de dois navios de investigação e um módulo autônomo, colaboraram para que os estudos prosseguissem.
E qual seria a importância para um país tropical também fincar sua bandeira no continente gelado, marcando presença política e cientificamente? Para o glaciologista a resposta é clara e remete à história geológica do mundo. Simões lembra que a Antártica foi parte do supercontinente Gondwana, que há cerca de 200 milhões de anos reunia todos os demais continentes do hemisfério sul. “A Antártica é parte integral do sistema Terra e se quisermos melhorar e ter um processo sustentável para este planeta, ela sempre estará incluída”, pontua ele. Mais do que isso, a Antártica também é o último ambiente totalmente preservado e é preciso criar novas maneiras para explorá-lo de maneira sustentável. “Se falharmos com a Antártica, certamente vamos falhar com o resto do planeta também”, conclui Simões.
Jefferson Cardia Simões é professor do Instituto de Geociências da Ufrgs. Possui graduação em Geologia pela mesma universidade, doutorado em Glaciologia pelo Scott Polar Research Institute (SPRI) da Universidade de Cambridge e pós-doutorado pelo Laboratoire de Glaciologie et Géophysique de l'Environnement (LGGE) do Centre National de la Recherche Scientifique - CNRS.
Simões é criador do Centro Polar e Climático da Ufrgs e atualmente é coordenadord-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera e o delegado nacional no Scientific Committee on Antarctic Research (SCAR) do Conselho Internacional para a Ciência.
Confira a entrevista completa aqui na IHU
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