Sunday, July 17, 2011

Belo Monte, Complexo Madeira, Tapajós e Tocantins – algumas falas


Esta semana estive participando da 63a. Reunião Anual da SBPC, no Campus Universitário da Universidade Federal de Goiás e algumas das conferências que acompanhei bem de perto, foram sobre o novo Código Florestal, Alternativas Energéticas e sobre os projetos de construção de Hidrelétricas na Amazônia.

Sem dúvida, a atividade Ciência em Ebulição, de sexta feira à tarde (15/07) foi a mais acalorada, com tema Belo Monte, Complexo Madeira, Tapajós e Tocantins. 




Teve a participação do Antropólogo Prof. Dr. Alfredo Wagner Breno de Almeida (professor na UEA e pesquisador da UFAM) e do Engenheiro José Ailton de Lima (diretor de engenharia e construção da CHESF).



A primeira apresentação foi do pesquisador da UFAM, que levantou os argumentos contra os projetos de construção do complexo de Usinas Hidrelétricas a serem construídas na Amazônia, entre elas, a polêmica Belo Monte. Fala bem argumentada em resultados de pesquisas científicas, mostrou com muita clareza os problemas sócio ambientais que envolvem obras deste tamanho em ambientes tão frágeis como a Amazônia. Ao contrário de seu interlocutor, o engenheiro José Ailton, um dos diretores da CHESF - Cia. Hidro Elétrica do São Francisco - concessionária responsável por parte das obras de Belo Monte, da transposição do Rio São Francisco, entre outras.


Num discurso sem argumentos, recheado de preconceitos típicos de um empresário capitalista, o engenheiro e diretor da CHESF, além de deixar os participantes indignados, colocou a mesa em situação de constrangimento.

 Apesar de haver preparado uma infinidade de transparências, não conseguia encontrar o que queria mostrar, mandando o auxiliar passar por várias, mostrando-nos só umas 4 ou 5 delas – as que interessavam apenas a ele – evidente. Seguem-se algumas das falas do mesmo senhor:
  • “… Porquê que índio tem que ter um tratamento diferenciado, só porque dizem que estavam aqui antes e por isso tem mais direito que nós brasileiros? “
  • Fazendo questão de deixar claro que “seis mil e poucas famílias de Altamira serão removidas para outras áreas, com projeto de urbanização, casa de alvenaria, tratamento de água e esgoto” - formulando ele mesmo a pergunta  “mas se numa hipótese alguma família não quiser sair, tem direito de não sair ?” – e ele mesmo respondendo – Não, não tem! Vai sair ou por bem, ou por negociação ou pelo direito, a obra vai sair de qualquer jeito.”
  • Tentando mostrar o quanto o projeto é viável: “Os igarapés serão urbanizados” – como se fosse possível fazer este milagre – “está no custo do projeto, não é um investimento do governo, os investidores vão arcar com esse custo.”
  • E o discurso vazio continua: “Tem ONGs estrangeiras que defendem que as propriedades indígenas têm autonomia, soberania sobre suas terras, soberania que vai além da soberania brasileira….. esse tipo de soberania eu não defendo, eu acho que as populações indígenas tem que ser tratadas dignamente como toda a população brasileira, que tem que ser respeitadas a sua cultura, as suas tradições e existem formas de fazer isso, mas aí de dizer que ninguém pode entrar nas suas terras, que nem o governo brasileiro…” – seguem-se gesticulações mostrando indignação - “essa é a verdade que até alguns políticos defendem… e com isso eu não concordo.”
  • O discurso segue em meio a indignação da platéia já inquieta e fervilhante: “A Volta Grande do Rio Xingú já fica seca a maior parte do ano mesmo!…. eu fiquei sabendo que o Raoni chorou por causa disso, e vai chorar mais ainda, vai chorar muito, porque a usina vai sair de qualquer jeito!”
E o discurso continuou por mais algum tempo. Alguns foram se retirando, não havia mais o que ouvir, já tinha sido o bastante. Outros ficaram para o debate final, onde o público pode fazer perguntas.
Mas como argumentar com quem não tem argumentos? como argumentar com um discurso preconceituoso, vazio e tendencioso, que mostra os interesses financeiros que há por trás de qualquer obra desta monta que assola o nosso país, fazendo parte do famigerado PAC – Plano e Aceleração do Crescimento – lançado pelo ex-presidente Lula (o qual já se declarou candidato às próximas eleições para presidente)?

Você também pode obter mais informações sobre Belo Monte no link abaixo:
http://www.abant.org.br/?code=101

(by Zara Hoffmann)
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3 comments:

Fátima Vaz de Lima said...

Oi Zara,
para os que estão acompanhando e se interessam pelo assunto, só nos resta o sentimento de impotência frente aos desmandos do governo,
Tenha uma ótima semana.
Abraços,
Fátima

Zara said...

Olá Fátima, não podemos desistir em fazer denúncias e gritar nossos direitos com todas as forças.
Democracia não pode ser isso que está aí,depois que o PT virou situação e se juntou aos partidos de direita,quem era do contra, ficou a favor, tudo confuso.
Um país onde não há mais oposição, dá nisso.... infelizmente.
Onde estão os indignados brasileiros pra colocar o "boca no trombone"?
Abços e ótimo final de semana!

alice almeida said...

Zara e Fátima...ainda existem os indignados...mas lamento que parecem uma minoria esmagada entre a elite (antes combatida pelo Partidos dos Trabalhadores) e a classe baixa, dominada por bolsas-ajudas-escravizadoras.