Tuesday, October 14, 2014

Haiti 4 anos após terremoto

Como está o Haití após 4 anos da tragédia?

O terremoto no Haiti em 2010 foi um acontecimento que deixou muitas marcas, as quais jamais serão esquecidas por aqueles que ainda sofrem as consequências tanto do terremoto como o descaso e o jogo de interesses econômicos e políticos na região. Esta é uma postagem que pode nos dar uma pequena amostra do que ocorre naquele país após a tragédia, passados 4 anos.

A notícia está reproduzida na íntegra e foi publicada na revista on line Com Ciência, da SBPC.



Notícias
Haiti e o domínio imposto pela Internacional Comunitária
Por Viviane Lucio
23/07/2014
"Após o terremoto de 2010, o Haiti se transformou em um país de ONGs. Atualmente, há no meu país uma ONG para cada 10 mil habitantes". A afirmação é do sociólogo haitiano Franck Seguy, que defendeu recentemente sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob a orientação de Ricardo Antunes . O trabalho teve o título "A catástrofe de janeiro de 2010, a Internacional Comunitária e a recolonização do Haiti". 

No estudo, Seguy discute a apropriação de seu país por membros do que chama de Internacional Comunitária, o conjunto de países e organizações a eles vinculadas que normalmente é chamado de comunidade internacional. Segundo o intelectual haitiano Jean Anil Louis-Juste, a Internacional Comunitária é o conjunto de países dominantes encabeçado por Estados Unidos, França e Canadá que tem como interesse comum a exploração do Haiti. Ela se desenvolve a partir de órgãos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Mundial de Desenvolvimento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que teriam as ONGs como braço ideológico. Estas, por sua vez, são responsáveis por implementar políticas educacionais e políticas públicas. 

As ONGs teriam se apossado, além da política, da economia e da força de trabalho do país, desestruturando-o. Segundo Seguy a desestruturação por meio da oferta de empregos com salários superiores aos oferecidos pelo governo haitiano, que anteriormente era quem melhor remunerava no país. Segundo o pesquisador, a força política para protestos ficaria enfraquecida dada a relação profissional e ideológica estabelecida. Ainda assim, mesmo os profissionais de alta qualificação haitianos receberiam salário menor do que profissionais estrangeiros. “Por exemplo, eu que tenho doutorado, receberia em uma ONG uns mil e duzentos dólares por mês. Já um estrangeiro que tem apenas graduação receberia uns seis mil dólares pelo mesmo período trabalhado”. 

Os trabalhadores braçais, geralmente camponeses, foram destituídos de suas casas para a construção de fábricas nas zonas francas. Enquanto aguardam indenização, são destinados a empregos nessas fábricas com salários que não ultrapassam quatro dólares ao dia. De acordo com Seguy, quando ficam descontentes com a remuneração não podem protestar, pois são reprimidos pelo exército da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). A solução então encontrada por eles é a migração. 

Internacional Comunitária chegou após terremoto 

O dia 12 de janeiro de 2010 tornou-se emblemático na história do Haiti. O país foi notícia mundial devido ao terremoto que levou cerca de 300 mil pessoas à morte, tendo ferido e desabrigado outras tantas. Além disso, arrasou a estrutura da capital, Porto Príncipe, região onde se concentrou o terremoto de magnitude 7.2 na escala Ritcher. Essa região abrigava, na época, 3 milhões de habitantes, o que significa que 10% da população foi mortalmente atingida. Após o abalo, o mundo se solidarizou com o país caribenho e enviou ajuda humanitária, que se define como alimentos, água, medicamentos, produtos de higiene básica e corpo médico para prestar os primeiros socorros. 

De acordo com o sociólogo, este foi o cenário para a entrada da Internacional Comunitária, que se instalou no país com o intuito de melhorar as condições de vida deixadas pelo terremoto e começou a construir zonas francas que atraíram empresas do mundo todo, principalmente coreanas e dominicanas, que produzem no Haiti. Quando exportam para os Estados Unidos, essas empresas o fazem sem pagar tarifas alfandegárias. Nesse contexto, o Haiti tornou-se produtor de suprimentos para a metrópole americana e passou a comprar produtos somente dela. Seguy entende, então, o Haiti como em relação colonial com os EUA.


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